Na contramão da alta de juros, governo Lula amplia acesso ao crédito





Enquanto o Banco Central (BC) segue a trajetória de elevação da taxa básica de juros, a Selic, no intuito de conter a inflação, o governo Lula (PT) quer mais dinheiro circulando na economia e tem apostado em programas de liberação do crédito e em medidas que ampliam o consumo.


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A gestão petista tem trabalhado para reverter a queda de popularidade, medida em pesquisas dos últimos meses e que preocupa cada vez mais, conforme se aproximam as eleições de 2026.



No último mês, foram três medidas nessa linha:



  • Liberação do saldo retido do FGTS de quem optou pelo saque-aniversário


O governo liberou os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para trabalhadores demitidos que aderiram ao saque-aniversário entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2025. O montante previsto para saque é de R$ 12 bilhões, beneficiando 12,1 milhões de pessoas.


Por trás desse anúncio de um saque extra, há a intenção de impulsionar o crescimento da economia mantendo a atividade aquecida.


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Outros governos já recorreram a saques extraordinários do FGTS para movimentar a economia. Em 2016, Michel Temer (MDB) autorizou o saque de contas inativas e rendeu R$ 44 bilhões. Depois foi a vez de Jair Bolsonaro (PL), em diferentes momentos, sendo um deles em meio à pandemia.



  • Criação do consignado privado para trabalhadores celetistas


O programa, batizado de Crédito do Trabalhador, amplia a oferta do empréstimo consignado a empregados do regime CLT, incluindo trabalhadores rurais e domésticos, além de MEIs.


As operações serão disponibilizadas a partir desta sexta-feira (21/3), por meio da Carteira de Trabalho Digital.


Quem já tem um consignado ativo — a maioria via Crédito Direto ao Consumidor (CDC), a modalidade de empréstimo mais utilizada atualmente — pode fazer a migração para a nova linha a partir de 25 de abril de 2025. Já a portabilidade entre os bancos (isto é, a troca de instituição) poderá ser realizada somente a partir de 6 de junho.


Hoje, são 3,8 milhões de trabalhadores privados com acesso ao crédito, de um universo de 47 milhões.


Para isso, o profissional autoriza o acesso a dados, como nome, CPF, margem do salário disponível para consignação e tempo de empresa. A partir daí, o trabalhador recebe ofertas em até 24h, analisa a melhor opção e faz a contratação no canal do banco.


O desconto das parcelas será na folha de salários, mensalmente pelo e-Social, o que permite que as taxas de juros sejam inferiores às praticadas atualmente no consignado por convênio. Após a contratação, o trabalhador acompanha mês a mês as atualizações do pagamento das parcelas.



  • Ampliação da faixa de isenção do IR de quem recebe até R$ 5 mil


Depois de meses do anunciou que ampliaria a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) de quem ganha até R$ 5 mil, na última terça-feira (18/3), o governo enviou ao Congresso um projeto de lei com essa mudança.


Segundo cálculos do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional), a medida pode levar a um crescimento de até 0,3 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) de 2026.


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A razão do impacto direto no crescimento da economia se deve ao fato de que grande parte dos valores que deixarão de ser pagos ao Fisco devem ser injetados no consumo.


“O projeto de lei apresentado pelo governo impacta o PIB de duas formas: uma pequena redução no investimento e um possível grande crescimento no consumo”, explica o presidente do Sindifisco Nacional, Dão Real.


“As pessoas que serão beneficiadas fazem parte de um grupo que necessita de recursos e deve adquirir produtos e serviços de outras pessoas que vão também consumir mais, então teremos um efeito multiplicador na economia. A expectativa é que esse efeito multiplicador compense a pequena redução no investimento, causando um crescimento de até 0,3 ponto percentual no PIB”, completa Real.


Crescimento da economia


Depois de dois anos de crescimento acima de 3% – PIB brasileiro cresceu 3,2% em 2023 e 3,4% em 2024 – está prevista uma retração da economia em 2025.


Estimativas do mercado financeiro divulgadas na última segunda-feira (17/3), por meio do relatório Focus, projetam que o país crescerá 1,99%. Enquanto o Ministério da Fazenda se mostra mais otimista ao esperar um crescimento de 2,3%.


Além do cenário doméstico, há preocupação entre os investidores em relação à desaceleração da economia dos Estados Unidos e ao impacto que isso pode causar em todo o mundo.


Segundo as estimativas divulgadas pelo Banco Central dos EUA, o PIB do país deve fechar o ano de 2025 em alta de 1,7% – uma projeção menor do que os 2,1% estipulados anteriormente.


Política monetária


Esse impulso à atividade econômica ocorre em desacordo com a política monetária do BC, que tem sido contracionista, com elevação dos juros, para baixar a inflação e trazê-la para dentro da meta (entre 1,5% e 4,5%). Nos últimos 12 meses, a inflação ficou em 5,06%.


Agora, está previsto um ajuste “de menor magnitude” na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, agendada para maio.


O Copom ainda salientou que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo “firme compromisso” de convergência da inflação à meta.





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